A bike elétrica Pedalla E-Utile é forte, robusta, encorpada e traz de série vários itens essenciais para o uso diário no trânsito urbano. Se fosse um carro, ela seria um utilitário esportivo.
Rodamos com a E-Utile por um período de dois meses, em diversas situações e percursos. De fato, este teste foi um pouco de outras bikes, pois tivemos também a oportunidade de colocá-la sob uso de alguns amigos em seus deslocamentos urbanos para trabalho e estudos. Assim, pudemos somar nossa avaliação com a opinião de pessoas de estaturas, pesos, condicionamento, habilidade e necessidades variadas. A e-bike nos foi útil também para driblar os dias de crise de abastecimento durante a greve dos caminhoneiros no fim de maio de 2018.
Produzida pela EBMS (Empresa Brasileira de Mobilidade Sustentável), com sede em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, o modelo E-Utile agrada muito em alguns pontos, mas decepcionou em alguns aspectos bastante específicos. É um projeto que acerta em cheio no propósito de ser uma bike útil e eficaz no ir e vir, confiável e segura. Mas deixou alguns poréns em relação ao conforto e, assim como todas as elétricas, tem um preço a ser pago pela tecnologia envolvida.
A bike é vendida por R$ 6.901,11, parcelados em até 12 vezes, ou à vista no boleto por R$ 6.211,00. A compra pode ser feita diretamente no site https://www.pedallabikes.com.
Apresentada ao público em dezembro de 2017 (veja reportagem), a linha da Pedalla é composta totalmente por e-bikes. São quatro modelos urbanos: a Gioia é a mais básica, seguida pela Rodda, a E-utile e a Velom; há ainda a Spectr0, uma fat bike muito divertida que experimentamos no lançamento. Cada um desses modelos urbanos avança em termos de equipamentos e acessórios, potência do motor e capacidade da bateria e tipo de câmbio.
A bike vem equipada com para-lamas, descanso lateral, campainha, cobre corrente, bagageiro e luzes na dianteira e traseira que atende perfeitamente quem roda nas planas e chuvosas capitais europeias como Berlim, Copenhague, Paris ou Amsterdã.
A questão é que a Europa não é aqui e a maioria das cidades de nosso País ainda carece de malha cicloviária e ruas com bom asfalto. O projeto parece ter sido importado já pronto e não ter levado em conta o gosto e a necessidade real dos usuários brasileiros.
A Bike
O quadro de alumínio possui tamanho único de 18 polegadas e tem a opção masculina que avaliamos e também o modelo Unissex. De fato, graças aos ajustes fáceis de selim e altura e inclinação da mesa (esses últimos por meio de ferramentas), não houve problema em adaptar a E-Utile para pessoas de diferentes estaturas durante o nosso teste.
O quadro é complementado por um garfo amortecido Zoom Aria com 45mm de curso. O motor da marca chinesa Bafang de 350W está localizado no cubo traseiro e é alimentado pela bateria 36Vx11,6Ah com célula Samsung, montada logo abaixo do bagageiro.
Guidão, mesa e canote são peças bonitas, com acabamento polido de alumínio, enquanto que o selim é um modelo largo e grandalhão, confortável para curtos percursos mas que pode ser incômodo em deslocamentos maiores. As manoplas têm formato ovalado e de pegada confortável.
A bike traz ainda luz dianteira e traseira alimentadas por pilhas comuns. Apenas o modelo superior da marca, a Velom, usa a bateria do motor para alimentar as luzes. O bagageiro é robusto e o conjunto é complementado pelos para-lamas integrais tanto na dianteira quanto na traseira. A E-Utile tem freios a disco mecânicos tanto na dianteira quanto na traseira.
O Teste
A primeira impressão ao pedalar a E-Utile é a de enorme conforto, com o guidão bastante elevado e o selim largo. Embora não tenha nenhuma medida fora do convencional, a bike parece ser bem grande, talvez por causa da posição ereta e o amplo entreeixos. Os primeiros minutos no asfalto liso e plano foram deliciosos. A bike é estável, muito fácil de conduzir e o motor introduz a potência de maneira firme, mas sem nenhum tranco.
Todas as pessoas que experimentaram a Pedalla durante os nossos testes tiveram a mesma reação ao subir na bike pela primeira vez. Sensação de facilidade para conduzir a bike e a percepção de uma posição agradável para pedalar, relaxada.
Porém, bastou encarar os primeiros trechos de piso irregular (no caso, ciclovias com o concreto rachado e fissuras no asfalto das ruas, típicas de países como o nosso) para perceber um inconveniente. Como a posição é muito ereta, os impactos na roda traseira são muito taxativos para o corpo, transmitidos por toda a coluna até a cabeça. É necessário reduzir a pressão do pneu traseiro para tornar o conjunto mais macio. Infelizmente, os pneus de 38mm de largura não permitem que a pressão seja muito baixa, sob o risco de furos por mordidas na câmara em impactos.
Com mais de 30kg, a bike é pesada e a bateria fica exatamente sobre a roda traseira e o peso do ciclista fica muito concentrado sobre o selim. Assim, a distribuição de massa fica também muito concentrada na roda traseira. No caso, o ideal seria substituir o pneu traseiro pelo mais largo possível, respeitando as limitações do para-lamas e do quadro.
Após um pouco de tentativa e erro, encontrei a pressão ideal do pneu traseiro de maneira que permitisse melhor conforto, mas sem que o pneu ficasse muito murcho. Baixar um pouco a altura do guidão – graças à mesa regulável – permitiu mais peso do corpo sobre os braços, aliviando a traseira. Tudo isso ajudou bastante a evitar as dores de cabeça ao fim de um percurso de 15 ou 20km em piso adverso, mas não posso deixar de mencionar que passei a erguer do selim sempre que percebia algum buraco no piso adiante.
Na dianteira, a história é bem diferente. Com pouco peso concentrado sobre o guidão e com ajuda do garfo amortecido, os impactos eram bem menos percebidos. Apesar da condução fácil e leve, a bike mantinha a trajetória segura tanto em curvas quanto em retas sobre piso imperfeito, o que é um ponto importante a ser salientado e está relacionado diretamente com a segurança da bike.
Por ter uma base comprida, fazer curvas muito fechadas em locais apertados não é muito fácil. Mas justamente por esse motivo, não passamos nenhum susto no trânsito, mesmo quando os motoristas deixavam pouca margem. É fácil de encontrar e manter a trajetória com a E-Utile, tanto em baixas quanto em altas velocidades.
Outro inconveniente observado em ruas de pisos irregulares é o barulho produzido pelos para-lamas e pelo cobre corrente.
Os freios a disco Tektro, mecânicos (com acionamento por cabo de aço) com rotores de 160mm agradaram bastante e se mostraram condizentes com as necessidades. Apesar de todo o peso da bike, é tranquilamente possível acionar os freios com apenas um dedo sem nenhuma surpresa. Os pneus Kenda também não decepcionaram (embora poderiam ser um pouco mais largos). Nenhum problema durante as centenas de quilômetros dos testes, aderência e desempenho adequados dentro dos limites da bike.
Na transmissão, a E-Utile apresenta um conjunto de 7 velocidades baseado no grupo Shimano Tourney. Os componentes são da linha mais simples da marca japonesa, e não falharam nas trocas por mais que tentássemos, mesmo durante trocas de marcha sob total potência de pernas e motores! O pedivela Prowheel de 36 dentes e o cassete 14-28 constituem uma relação adequada ao perfil do equipamento e às velocidades médias alcançadas com ajuda do motor. Mesmo sem o auxílio elétrico, a relação mostrou-se suficiente para manter a bike em movimento em trechos planos e aclives leves, mas qualquer rampa mais íngreme exigirá um desmonte para empurrar a bike caso o ciclista fique sem bateria.
Assistência Elétrica
A atuação do motor foi bastante satisfatória, praticamente sem atrasos no funcionamento ao arrancar com a bike e ao interromper o movimento do pedivela. A Pedalla fez um bom trabalho ao integrar os sensores de movimento do pedivela ao sistema geral da bike. Os 350 watts disponíveis, junto com o câmbio, permitiram que qualquer subida que encontramos fosse encarada como se estivéssemos pedalando no plano. Não houve maiores problemas mesmo em subidas de 15% de inclinação (suficiente para um carro popular subir em segunda marcha) com um ciclista de 85kg pedalando suavemente e sem grandes esforços. Assim como em todas as e-bikes, há um corte automático do funcionamento ao alcançar os 25km/h.
Para o ciclista ficar sem bateria serão necessários muitos quilômetros. Uma recarga completa, que leva aproximadamente 3 horas, garante à bike uma autonomia divulgada de 30 a 60km, mas chegamos a rodar mais que isso com uma única carga sem chegar a esgotar a bateria: quase 80km com algumas subidas isoladas e bastante uso do nível máximo de auxílio elétrico. Na hora de recarregar, a bateria pode ser facilmente removida do seu receptáculo sob o bagageiro, protegida por uma chave que acompanha a bike.
Assim, a E-Utile pode ser deixada na garagem do prédio e apenas a bateria levada para casa ou para o escritório para ser recarregada. Assim como acontece com praticamente todas as outras e-bikes, é necessário utilizar um carregador grande e desajeitado (semelhante aos carregadores de notebook, porém maior e mais pesado) e não há na bike nenhum tipo de acessório integrado para transportar o carregador durante os deslocamentos – vai ocupar espaço na mochila.
O sistema elétrico é complementado pelo display LCD de leitura muito fácil, tanto pelo seu tamanho quanto pela posição. A a tela é retroiluminada com a possibilidade de ajuste do brilho para não ofuscar a visão durante à noite. O display exibe informações como velocidade, distância percorrida e odômetro, hora, estado da bateria, nível de acionamento do motor etc. Todo o controle das telas, assim como da potência do motor, é feita por um comando localizado próximo à manopla esquerda, fácil de alcançar com o dedão e de uso bastante intuitivo.
PARA FICAR NO CHÃO
Durante o teste, observamos algumas situações que limitaram a praticidade da E-Utile no cotidiano. Como a bike é grande e pesada, é muito difícil levá-la em um elevador apertado, e quase inviável carregá-la escadaria acima. Se o ciclista tem um espaço muito restrito para guardar a bike, ou se utiliza algum tipo de suporte de parede, talvez essa bike não seja a melhor opção.
Não conseguimos transportar a bike dentro de um carro também, já que, além da dificuldade em levantar um bike de 30,5kg, muitos racks de teto não suportam este peso. De toda maneira, o mesmo valeria para qualquer modelo urbano de maiores dimensões. Durante o teste, não tivemos a oportunidade de experimentar a bike em metrôs e ônibus.
CONCLUSÕES
Quem procura uma bike para realizar deslocamentos urbanos curtos e médios encontrará na Pedalla E-Utile uma boa companheira, confiável, fácil de conduzir e com boa potência. É uma bike bem prática, graças aos acessórios, com bagageiro, para-lamas e luzes dianteiras e traseiras, mas talvez não seja a melhor opção para quem tem espaço limitado para armazená-la ou para locais com piso muito ruim, ruas de paralelepípedos etc. Em geral, seu funcionamento e usabilidade agradaram e a bike atendeu plenamente ao seu propósito.
Pontos positivos: Bike de condução fácil e estável, preço adequado, motor com boa potência para os deslocamentos urbanos, display LCD grande e informativo, freios a disco simples, porém eficientes.
Pontos negativos: Muitos impactos sentidos na traseira, barulhos em ruas esburacadas, os pneus poderiam ser um pouco mais largos, difícil de guardar em um apartamento ou transportar no elevador, lances de escada e em veículos.
Mais informações no site www.pedallabikes.com.br
Fonte: Bike Magazine